Estudo investiga o link entre genética, microbioma, dieta e inflamação intestinal

Por Docmedia

25 março 2024

A colite ulcerativa e a doença de Crohn são as duas apresentações de um distúrbio inflamatório crônico do intestino conhecido em bloco como doença inflamatória intestinal (DII). Embora a DII tenha uma base genética já em parte conhecida, há a influência ainda não completamente conhecida de outros fatores ambientais.

Agora, um estudo de pesquisadores da Universidade de Michigan trouxe os achados de um esforço que investigou o link entre genética, dieta e microbioma na DII. A publicação do grupo na revista Cell Host & Microbe lembra que em algumas pessoas a perda genética da produção da interleucina 10 (IL-10) ou de seu receptor resulta no surgimento de DII precoce em crianças.

No estudo atual, os pesquisadores realizaram diferentes experimentos em camundongos contendo exatamente essa perda genética de IL-10. Observando diferentes grupos de animais submetidos a diferentes condições de vida, os pesquisadores descobriram que a gravidade da inflamação intestinal nos animais variou principalmente em função da quantidade de fibras presente na dieta e da prevalência no microbioma intestinal de bactérias degradadoras de mucina como Akkermansia muciniphila e Bacteroides caccae.

Em verdade, animais geneticamente predispostos à DII e alimentados com dieta pobre em fibras não apresentaram inflamação intestinal quando foram criados sem germes. Segundo os autores, as bactérias degradadoras de mucina buscam nesse muco seus nutrientes e com isso promovem um adelgaçamento da barreira de mucina, expondo a mucosa intestinal ao restante do microbioma e maior risco de inflamação.

De modo semelhante, enquanto as dietas com pouca ou nenhuma fibra alimentar tendiam a aumentar o grau de inflamação, maiores quantidades deste componente na dieta puderam até mesmo suavizar ou reverter quadros estabelecidos de DII. O irônico é que, em crianças, o tratamento da DII precoce tem como uma das bases uma dieta alimentar conhecida como nutrição enteral exclusiva (EEN) que reduz a inflamação mucosa apesar de conter baixíssimo teor de fibra alimentar.

Para esclarecer também esse ponto, os pesquisadores alimentaram um modelo murinho de DII genética com EEN e examinaram os animais. Do mesmo modo que em humanos, a EEN reduziu a inflamação intestinal apesar do baixo teor de fibras. Entretanto, a equipe descobriu que a EEN favorece a proliferação de bactérias produtoras do ácido graxo de cadeia ramificada isobutirato e o excesso desse ácido graxo pareceu estar debelando a inflamação mucosa.

Segundo os autores, o trabalho é importante por aumentar o conhecimento sobre essa complexa interação entre fatores genéticos e ambientais no contexto da DII, além de apontar para uma nova e potencial estratégia de tratamento.

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Fonte: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S193131282400060X?via%3Dihub

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