Estudo demonstra inflamação intestinal de baixo grau associada à radioterapia pélvica

Por Docmedia

27 outubro 2023

A radioterapia pélvica com ou sem direcionamento é um dos pilares de tratamento de alguns cânceres pélvicos comuns como o câncer de próstata e o câncer de colo uterino invasor. Infelizmente, apesar da eficácia dessa terapêutica no longo prazo, ela não é isenta de efeitos colaterais. Uma queixa comum desse tipo de paciente é uma gama de sintomas intestinais que variam desde tenesmo até diarréia.

A novidade é que pesquisadores da Universidade de Gotemburgo descobriram o que pode estar por trás desses sintomas e que pode gerar oportunidades de tratamento para melhora da qualidade de vida desses pacientes. A publicação do grupo na revista eBioMedicine traz os resultados de um estudo conduzido em uma coorte com 28 participantes, sendo 24 deles sobreviventes de cânceres pélvicos irradiados e 4 participantes saudáveis sem histórico de irradiação e que serviram controles.

No grupo irradiado, havia tanto participantes que receberam a radioterapia tradicional como participantes que receberam a forma de radioterapia mais direcionada e que se presume provocar menor dano no tecido circunjacente, a IMRT. Além disso, os pacientes tinham uma média de 5 anos desde o tratamento radioterápico, com intervalos variando entre dois e vinte anos.

Todos os participantes concordaram em ceder amostras obtidas a partir de uma biópsia da mucosa intestinal. Essas amostras passaram por espectrometria de massa tandem masstag (TMT) e sequenciamento de mRNA (mRNA-seq), sendo traçados os perfis proteômicos e transcriptômicos do tecido mucoso previamente exposto a uma dose alta ou baixa/nenhuma de radiação.

As alterações nas populações de células imunes foram determinadas com citometria de fluxo. A integridade das camadas protetoras de muco foi determinada por análise de permeabilidade e detecção bacteriana 16S rRNA. Deste modo, foi descoberto que 942 proteínas foram expressas diferencialmente em mucosa previamente exposta a uma alta dose de radiação em comparação com uma baixa dose de radiação.

Os dados sugeriram uma inflamação crônica de baixo grau com atividade de neutrófilos, que foi confirmada por mRNA-seq e citometria de fluxo e ainda apoiada por achados de uma barreira de muco enfraquecida com infiltração bacteriana. Na prática, os autores acreditam terem demonstrado efeitos da radioterapia materializados como inflamação intestinal crônica de baixo grau que estava presente mesmo 20 anos após o tratamento com irradiação.

Esse achado enfrenta a crença atual de que esse tipo de tratamento causa inflamação aguda que se resolve evoluindo para uma fibrose estática. E sendo assim, cria-se justificativa para investigar estratégias que possam potencialmente mitigar esse efeito.

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Fonte: https://www.thelancet.com/journals/ebiom/article/PIIS2352-3964(23)00256-6/fulltext

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