Cerca de 80% dos mais de 1,1 bilhão de fumantes no mundo vivem em países de média e baixa renda, nos quais a carga de mortes e doenças relacionadas ao tabagismo se torna um fardo ainda mais pesado para os sistemas de saúde.
A novidade é que um estudo conduzido por pesquisadores da Washington State University descobriu que o derivado canábico não psicodélico canabidiol (CBD) pode ser um valioso auxílio para a redução dos danos relacionados ao tabagismo, ou mesmo sua cessação. A publicação do grupo na revista Chemical Research in Toxicology traz os dados de um estudo que investigou os efeitos do CBD sobre o aparato enzimático que faz a metabolização da nicotina, principal componente viciante do tabaco.
No estudo, os efeitos inibitórios de CBD e 7-hidroxicanabidiol (7-OH-CBD) foram testados em microssomas de células HEK293 superexpressando enzimas metabolizadoras individuais e de tecido hepático humano. Ensaios com superexpressão de microssomas demonstraram que o CBD e o 7-OH-CBD inibiram o metabolismo da nicotina mediado pelo CYP. De forma resumida, foi descoberto que mesmo em doses baixas, o CBD inibiu diferentes enzimas envolvidas no metabolismo da nicotina. Esse efeito inibitório incluiu também a enzima CYP2A6, que é a principal enzima metabolizadora da nicotina, transformando a nicotina em cotinina e nornicotina.
O tratamento das células com CBD resultou em inibição de até 50% da ação enzimática. Do ponto de vista de utilidade clínica, a inibição da CYP2A6 permite a manutenção de altos níveis de nicotina no ambiente o que, em tese, deve reduzir a demanda do organismo por novos aportes de nicotina. Em outras palavras, a inibição do metabolismo da nicotina pelo CBD pode potencialmente reduzir o número de cigarros fumados ou até mesmo funcionar como um auxiliar para a cessação do vício.
Segundo os autores, o presente estudo é o primeiro a realizar um exame abrangente dos efeitos inibitórios do CBD e seu metabólito ativo 7-OH-CBD no metabolismo da nicotina, com as atividades enzimáticas de cada uma das principais enzimas avaliadas individualmente para possíveis interações medicamentosas com esses canabinoides.
A potente inibição demonstrada da CYP2A6 e outras enzimas do metabolismo nicotínico corroboram estudos clínicos anteriores mostrando redução de até 40% do consumo de tabaco após ingestão de CBD por vaporização. No conjunto, esses dados justificam esforços para determinar o potencial do CBD e outros canabinoides como agentes para a terapia de cessação do tabagismo.
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Fonte: https://pubs.acs.org/doi/full/10.1021/acs.chemrestox.2c00259
