A relação entre o uso de Cannabis sativa e seus derivados com transtornos psiquiátricos tem sido amplamente debatida. A cannabis é uma droga psicoativa e viciante que às vezes produz sintomas semelhantes aos da psicose. Os distúrbios psiquiátricos, como a esquizofrenia e o transtorno bipolar, são caracterizados por uma percepção gravemente perturbada da realidade ou por um estado de confusão mental.
Agora, pesquisadores do Centro Norueguês de Pesquisa em Transtornos Mentais, da Universidade de Oslo, anunciaram terem descoberto que existem fatores genéticos compartilhados subjacentes à suscetibilidade tanto ao uso de cannabis quanto a alguns distúrbios psiquiátricos. A publicação na revista The Lancet Psychiatry conta que a pesquisa demonstrou que indivíduos que usam cannabis têm um risco três vezes maior de desenvolver psicose.
Além disso, o uso de cannabis ao longo da vida pode levar ao desenvolvimento de transtorno bipolar. O estudo se debruçou sobre 2.181 participantes europeus da coorte Norwegian Thematically Organized Psychosis.
Os fatores genéticos desempenham um papel importante na determinação da probabilidade de um indivíduo usar cannabis e de desenvolver transtornos psiquiátricos. Variantes genéticas, que são diferenças no código de DNA entre diferentes indivíduos, estão associadas ao uso de cannabis e a distúrbios psiquiátricos, como a esquizofrenia. Essa ligação genética sugere que as mesmas variantes genéticas estão envolvidas tanto no uso de cannabis quanto no desenvolvimento de transtornos psiquiátricos.
O estudo utilizou métodos estatísticos avançados e baseou-se em resultados de estudos anteriores sobre associação genômica. Foi descoberto que os transtornos psicóticos eram mais hereditários do que os fenótipos de cannabis e mais poligênicos do que o transtorno por uso de cannabis.
Foram observadas correlações genéticas positivas em todo o genoma entre transtornos psicóticos e fenótipos de cannabis, com uma mistura de correlações genéticas locais positivas e negativas. Três a 27 loci compartilhados foram identificados para os pares de fenótipos de transtorno psicótico e cannabis. Os transtornos psicóticos mostraram um efeito causal nos fenótipos de cannabis e o uso de cannabis na vida teve um efeito causal no transtorno bipolar.
Segundo os autores, suas descobertas sugerem que um subgrupo de indivíduos pode ter um alto risco genético de desenvolver um transtorno psicótico ao usar cannabis. Esta descoberta apoia esforços de saúde pública para reduzir o uso de cannabis, particularmente em indivíduos de alto risco e pacientes com transtornos psiquiátricos. Loci compartilhados identificados e suas implicações funcionais podem facilitar o desenvolvimento de novos tratamentos.
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Fonte: https://www.thelancet.com/journals/lanpsy/article/PIIS2215-0366(23)00143-8/fulltext
