Pesquisa identifica nutriente que pode ser utilizado como terapia auxiliar no câncer

Por Docmedia

30 janeiro 2024

É um fato conhecido há muito tempo que a quantidade e qualidade dos alimentos consumidos na dieta influencia diversos parâmetros da saúde humana. Com o passar do tempo, este conhecimento foi sendo refinado e foram sendo descobertos outros componentes da alimentação com funções cada vez mais específicas em termos de benefício para a saúde.

Nesse contexto, é importante um trabalho recente de pesquisadores da Universidade de Chicago que identificou e descreveu um nutriente dietético com potencial de ser utilizado como uma terapia auxiliar no tratamento do câncer. A publicação do grupo na revista Nature conta que o foco do trabalho foi o ácido trans vacênico (TVA), um ácido graxo de cadeia longa encontrado na carne e nos laticínios de animais que pastam, como vacas e ovelhas.

No estudo, a equipe iniciou investigando uma biblioteca com cerca de 700 metabólitos conhecidos provenientes de alimentos e montaram uma biblioteca de moléculas composta por 235 moléculas bioativas derivadas de nutrientes. O objetivo de testar todas essas moléculas foi avaliar a influência de cada uma delas sobre sua capacidade de influenciar a imunidade antitumoral, especificamente ativando as células T CD8 que têm por atividade principal a eliminação de células cancerígenas ou infectadas.

Depois que a equipe avaliou os seis principais candidatos em células humanas e de camundongos, foi constatado que o TVA teve o melhor desempenho na ativação da imunidade antitumoral. O TVA é o ácido graxo trans mais abundante no leite humano, mas o corpo não consegue produzi-lo por conta própria. Apenas cerca de 20% do TVA é decomposto em outros subprodutos, enquanto 80% da molécula permanece circulando no sangue na forma original.

Na fase seguinte do estudo, os experimentos utilizaram células cancerígenas humanas em modelos murinos de diferentes tumores como melanoma e câncer de cólon. Parte de um grupo de animais recebeu dieta padrão enquanto os demais foram suplementados com TVA.

Clinicamente, o resultado foi que os tumores dos animais suplementados tiveram o crescimento muito inferior na comparação com aqueles do grupo da dieta padrão. Para entender esse efeito, pesquisas moleculares e de expressão gênica foram conduzidas e mostraram que o TVA inativa um receptor GPR43 na superfície celular, que geralmente é ativado por ácidos graxos de cadeia curta, produzidos pela microbiota intestinal.

O TVA domina esses ácidos graxos de cadeia curta e ativa um processo de sinalização celular chamado via CREB, envolvido em funções como crescimento, sobrevivência e diferenciação celular. Também foi visto que a exclusão do GPR43 compromete sensivelmente a imunidade antitumoral.

Finalmente, em uma coorte de pacientes que receberam imunoterapia CAR-T contra o câncer, os pesquisadores encontraram que aqueles com maiores níveis séricos de TVA tendiam a mostrar melhor resposta ao tratamento.

Segundo os autores, seus resultados sustentam que o TVA poderia ser usado como suplemento dietético para ajudar em vários tratamentos de câncer baseados em células T.

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Fonte: https://www.nature.com/articles/s41586-023-06749-3

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