Pesquisa desvenda mecanismo de proteína que promove metástase no câncer de mama

Por Guilherme Rocha

8 dezembro 2023

Em termos de câncer, a principal causa de morte é a metástase. Isso é especialmente verdade em cânceres como o de mama, em que os tumores não metastáticos e restritos ao tecido mamário apresentam taxas de sobrevivência de até espantosos 90%. Sendo assim, parte importante da pesquisa do câncer se debruça sobre os mecanismos envolvidos na produção de metástases e potenciais alvos terapêuticos para tentar prevenir este processo.

Nesse contexto, a novidade é um estudo de pesquisadores do Instituto de Pesquisa em Biomedicina de Barcelona no qual foi descrito o mecanismo envolvido na produção de metástase do câncer de mama pela proteína chamada fator de transcrição MAF. A publicação em Nature Cell Biology lembra que estudos anteriores já haviam associado MAF ao desenvolvimento de metástases, mas as razões para tal associação permaneciam desconhecidas.

No estudo atual, os pesquisadores se utilizaram de experimentos em culturas de células de câncer de mama receptor de estrogênio positivo, modelos murinos de câncer de mama e validaram os resultados encontrados em amostras de tumores humanos retirados de pacientes. Com essa estratégia, foi possível à equipe descrever como a proteína MAF interage com o receptor de estrogênio, elemento-chave no desenvolvimento do câncer de mama, modificando sua estrutura.

Na prática, a interação MAF-receptor de estrogênio promove reestruturação de DNA por meio da molécula KDM1A, permitindo então a ativação de genes que favorecem a metástase a partir da ligação do estrogênio ao seu receptor modificado por MAF. Como consequência clínica, tumores com maiores níveis de proteína MAF apresentam maior risco de evoluírem com metástases.

Segundo os autores, seus achados abrem a possibilidade de prevenir metástases ao impedir a ativação de genes pró-metastáticos por meio da inibição da molécula KDM1A, responsável pela reestruturação do DNA. Em outra vertente, também foi visto em estudos que tumores ricos em MAF tendem a ser resistentes ao tratamento com bifosfonatos para prevenção de metástase óssea.

Sendo assim, definir o status MAF do tumor pode permitir que se selecione melhor as pacientes para esse tipo de tratamento. O estudo também levou ao desenvolvimento de um teste MAF que já está disponível na Espanha pela empresa PALEX Medical.

Por fim, uma molécula com ação capaz de inibir KDM1A já foi identificada e está em ensaios para validar sua eficácia e segurança.

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Fonte: https://www.nature.com/articles/s41556-023-01281-y

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