A colite ulcerativa é uma das apresentações da doença inflamatória intestinal, um distúrbio inflamatório crônico em que o sistema imune passa a atacar as células do epitélio intestinal e desencadeiam formas clínicas que podem variar de sintomas leves a potencialmente fatais.
Embora existam tratamentos disponíveis, sua eficácia não é a ideal, há necessidade de medicação crônica e efeitos colaterais relevantes. Em parte, isto ocorre porque simplesmente não se sabe o porquê de o sistema imune atacar o intestino. A novidade é que pesquisadores Instituto Internacional do Câncer de Osaka e do Centro de Regulação Genômica de Barcelona anunciaram que a chave da questão pode ser o muco intestinal.
A publicação na Proceedings of National Academy of Sciences conta que o foco do trabalho foi a enzima alfa 1-6 fucosiltransferase (FUT8). Essa enzima participa de uma reação chamada fucosilação que modifica as propriedades físicas de diferentes proteínas. Além disso, em 2013 o grupo de Barcelona confirmou a participação de FUT8 no processo de secreção de mucinas componentes do muco intestinal.
É sabido que normalmente os níveis de FUT8 costumam ser baixos na população geral saudável. O curioso é que no ano de 2016 a equipe japonesa descobriu que camundongos sem o gene FUT8 estavam protegidos de desenvolver colite ulcerativa. A partir de então, as duas equipes decidiram se unir para investigar o papel de FUT8 na colite ulcerativa.
Inicialmente, dados de expressão gênica de 24 portadores de colite ulcerativa e 16 controles saudáveis mostraram que os doentes tinham níveis 3,5 vezes maiores de FUT8 que os controles e também níveis mais altos de diferentes tipos de mucinas foram encontrados no cólon inflamado dos doentes.
Voltando aos camundongos cuja FUT8 foi excluída, foi descoberto que a ausência da enzima produz uma camada de muco externa mais propícia a aprisionar e eliminar bactérias, deixando uma camada de muco interna estéril protetora para o epitélio intestinal. Já a superexpressão de FUT8 cria uma camada externa mais espessa e de difícil remoção e uma camada interna menos compacta.
Em conjunto, as alterações aumentam a permeabilidade da proteção mucosa e dão mais tempo aos patógenos para acessarem o epitélio, o que pode explicar a tendência à inflamação.
Segundo os autores, suas descobertas são importantes por elucidar um potencial mecanismo de doença, apontam para potenciais terapias de manipulação do muco via FUT8 e, por fim, abrem oportunidade para o desenvolvimento de novos testes diagnósticos para a doença.
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