As estatinas estão entre os medicamentos mais prescritos no mundo e foram produzidas na década de 1980 a partir de moléculas presentes em fungos. Esses medicamentos visam principalmente reduzir os níveis séricos de colesterol a partir da inibição da enzima HMG-CoA redutase na via do mevalonato. Entretanto, estudos sugerem que as estatinas promovem benefícios adicionais, como melhora da função vascular, embora ainda não seja conhecido como a droga promove tal efeito.
Agora, pesquisadores da Universidade de Stanford anunciaram terem desvendado o mecanismo subjacente a esse efeito protetor dos vasos sanguíneos por parte das estatinas. A publicação em Nature Cardiovascular Research conta que pacientes com insuficiência cardíaca que tomam estatinas têm risco reduzido de sofrerem um segundo infarto do miocárdio e que esse efeito não pode ser creditado inteiramente à redução dos níveis de colesterol LDL. Deste modo, passou-se a especular um efeito também sobre a inflamação da parede vascular e prevenção da obstrução do lúmen vascular.
Para tentar entender melhor tais efeitos, a equipe de Stanford testou a sinvastatina em culturas de células endoteliais. A função primordial das células endoteliais é compor a camada interna dos vasos. Ocorre que, em determinadas doenças, parte das células endoteliais é direcionada para se transformarem em células mesenquimais. Essa troca é ruim, porque as células mesenquimais têm menos das funcionalidades necessárias para bem compor a parede vascular.
Como resultado prático, vasos com mais células mesenquimais que o habitual são menos eficientes nas funções de contração e relaxamento da parede. No estudo atual, o tratamento das células endoteliais com sinvastatina mostrou maior capacidade de estas se organizarem em novos vasos sanguíneos. Em outras palavras, a transição dessas células para células mesenquimais foi inibida.
Posteriormente, os pesquisadores utilizaram um método para investigar alterações epigenéticas (ATAC-seq) nas células tratadas e descobriram que a sinvastatina reorganizou a cromatina das células alterando sua expressão gênica. Molecularmente, a sinvastatina impediu a entrada no núcleo da proteína YAP. Com isso, YAP foi impedida de expor para expressão trechos do DNA que causam a transição celular de endotelial para mesenquimal.
Finalmente, testando a sinvastatina em modelos murinos de diabetes, os pesquisadores confirmaram melhora expressiva da função vascular.
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