Estudo demonstra um elo potencial entre microbioma intestinal e endometriose

Por Guilherme Rocha

6 março 2023

Segundo estimativas, cerca de 200 milhões de mulheres em todo o mundo são acometidas por endometriose. A doença descreve o desenvolvimento de tecido endometrial ectópico, o que resulta em sintomas variados, sendo os mais altamente prevalentes a dor pélvica crônica, por vezes incapacitante, e a infertilidade.

Apesar de toda a pesquisa no tema, pouco se conhece sobre os mecanismos que promovem a progressão da doença. Entretanto, um avanço pode ter sido conseguido por pesquisadores do Baylor College of Medicine, que advogam por um fator ligado ao microbioma na promoção da doença. Tal afirmação vem em artigo na revista Cell Death & Discovery no qual são revelados dados de um estudo em camundongos.

Inicialmente, os pesquisadores se ocuparam em estabelecer um modelo murino de endometriose em que o microbioma intestinal foi inteiramente deletado. Isso feito com antibióticos de largo espectro e permitiu a comparação da intensidade de progressão da endometriose entre os grupos de roedores com e sem microbioma. Curiosamente, foi descoberto que as lesões endometrióticas dos camundongos que tiveram o microbioma intestinal eliminado por antibióticos eram menores e progrediam com menos vigor.

Em outro experimento, camundongos com endometriose e sem microbioma intestinal receberam transplante fecal de animais portadores da doença, mas com o microbioma intacto. Neste caso, o que foi visto foi uma aceleração da progressão das lesões endometrióticas nesses animais, ao ponto mesmo de serem comparáveis com as lesões de animais que mantiveram o microbioma intacto durante toda a observação.

Tais achados sugerem que as bactérias do microbioma intestinal promovem a progressão da endometriose. Curiosamente, o mesmo tipo de relação não foi encontrada para as bactérias do microbioma genital. Além disso, os pesquisadores mapearam os metabólitos bacterianos que possivelmente estariam envolvidos no efeito promotor da endometriose. Dentre esses, foi destaque o ácido quínico, que ao ser adicionado a lesões endometrióticas em cultura induziu aumento da proliferação celular e crescimento da lesão.

Segundo os autores, suas descobertas sugerem que o direcionamento de algumas cepas bacterianas componentes do microbioma intestinal, ou alguns de seus metabólitos, podem ser futuramente utilizados em novas abordagens diagnósticas e terapêuticas para a condição em humanos.

Curadoria: Dr. Guilherme Rocha, médico especialista em Ginecologia e Obstetrícia pela FEBRASGO.

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Fonte: https://www.nature.com/articles/s41420-023-01309-0

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