Droga para tratamento de Parkinson pode impulsionar terapia de precisão na depressão

Por Docmedia

6 março 2023

O transtorno depressivo maior (TDM) é uma condição comum e grave, que se estima afetar cerca de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. A disfunção relacionada à conectividade cerebral promovida por neurotransmissores resulta em prolongado estado de pensamentos negativos e perda da capacidade de sentir prazer (anedonia).

O tratamento para a condição existe, mas as respostas são heterogêneas e parte dos pacientes não responde, convivendo com diferentes graus de incapacidade na vida social, familiar e profissional. A novidade é que um estudo de pesquisadores da Universidade Emory desvendou um mecanismo relacionado à inflamação sistêmica que pode impulsionar a terapia de precisão em quadros depressivos.

A publicação em Molecular Psychiatry relata trabalho recente do grupo focado na droga levodopa, que alivia os sintomas da doença de Parkinson ao inibir a descarboxilação e liberando mais substrato para a produção do neurotransmissor dopamina no cérebro. Pesquisas anteriores na Emory evidenciaram que a inflamação sistêmica no tecido cerebral pode resultar em redução da liberação de dopamina no estriado ventral, área relacionada ao controle da motivação e da atividade motora. Em função disso, o estudo atual visou avaliar os efeitos de um fármaco capaz de reverter a queda da dopamina sobre esse mecanismo.

Para o estudo foram recrutados 40 pacientes com diagnóstico de TDM em diferentes níveis (altos e baixos) de proteína C reativa (PCR), um biomarcador produzido no fígado em resposta à inflamação. Todos os participantes foram submetidos a duas varreduras funcionais do cérebro com ressonância magnética (fRMN) para investigar a conectividade funcional no sistema de recompensa do estriado ventral após desafio farmacológico em que foram administrados em ordem aleatória placebo ou levodopa (250mg).

Curiosamente, a levodopa mostrou melhorar a conectividade funcional do estriado ventral ao circuito de recompensa córtex pré-frontal ventromedial, mas apenas nos pacientes com níveis mais altos de PCR. Clinicamente, esse efeito da levodopa se correlacionou com melhora dos sintomas de anedonia nesses pacientes.

Segundo os autores, tais resultados são muito importantes por demonstrarem que pacientes com TDM e altos níveis de PCR podem se beneficiar de drogas que aumentam a dopamina e por sugerirem que a conectividade funcional nos sistemas de recompensa pode servir como um biomarcador confiável dos efeitos da inflamação no cérebro.

Em última instância, esses dados podem ser utilizados para prever com precisão quais pacientes poderão ser beneficiados por esse tipo de abordagem.

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Fonte: https://www.nature.com/articles/s41380-022-01715-3

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