Em geral, é uma percepção comum que a coadministração de canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabinol (THC) tem o condão de promover o efeito terapêutico necessário ao mesmo tempo em que modula e limita os efeitos colaterais indesejáveis do THC.
A novidade é que um estudo de pesquisadores da Universidade Johns Hopkins acaba de encontrar que isso não é verdade para formulações de administração oral, que é a via mais amplamente utilizada no momento em situações de mundo real. A publicação na revista JAMA Network Open traz as descobertas de um estudo que recrutou 18 participantes adultos (11 homens e 7 mulheres) que foram orientados a não utilizarem qualquer produto de cannabis nos 30 dias que antecederam o estudo.
Os voluntários participaram de três sessões, cada um separado por pelo menos uma semana de intervalo. Em cada sessão, os participantes consumiram um brownie contendo 20 mg de THC, 20 mg de THC e 640 mg de CBD ou nenhum THC ou CBD servindo como placebo. O conteúdo do brownie consumido em cada sessão não era conhecido pelos participantes e nem pelos pesquisadores.
Os participantes tiveram frequência cardíaca e pressão arterial aferidos e forneceram amostras de sangue e urina antes de cada sessão e em intervalos cronometrados por 12 horas e novamente aproximadamente 24 horas após a dosagem da droga ter sido concluída. Os efeitos de drogas auto-relatados foram medidos usando o Drug Effect Questionnaire (DEQ), uma ferramenta padronizada usada para avaliar aspectos de experiências subjetivas após receber uma droga psicoativa como THC ou cannabis. O DEQ tem escala variando de 0 a 100, desde nada afetado até extremamente afetado.
Ao avaliarem os resultados, os pesquisadores descobriram que a quantidade máxima de THC medida nas amostras de sangue dos participantes foi quase 2 vezes maior depois de consumir um brownie contendo THC com CBD do que com o brownie contendo apenas THC, embora a dose de THC em cada brownie (20 mg) fosse a mesma. Além disso, a quantidade máxima de 11-OH-THC, um metabólito com ação similar ao THC, foi 10 vezes maior depois de comer o brownie de CBD+THC em comparação com aquele contendo apenas THC.
A aplicação da escala DEQ mostrou que a combinação CBD-THC resultou em sintomas mais pronunciados com pior desempenho de cognição e memória. Especificamente, os participantes experimentaram aumentos maiores nos efeitos gerais das drogas (59 [THC] vs. 73 [THC + CBD]), efeitos desagradáveis das drogas (20 [THC] vs. 39 [THC + CBD]), sensação de enjoo (12 [THC] vs. 26 [THC + CBD]), olhos secos/vermelhos (16 [THC] vs. 29 [THC + CBD]) e dificuldade em realizar tarefas rotineiras (30 [THC] vs. 47 [THC + CBD]).
Segundo os autores, seus resultados ressaltam a importância de serem conhecidas as composições e dosagens dos diferentes produtos de cannabis, assim como das diferentes interações desses compostos entre si e com outras drogas de forma a minimizar a ocorrência de efeitos indesejáveis.
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Fonte: https://jamanetwork.com/journals/jamanetworkopen/fullarticle/2801352
