Há mais de cem anos, os pesquisadores identificaram corpúsculos proteicos aglomerados nos cérebros de indivíduos que faleceram após um quadro demencial progressivo. Esses aglomerados incorporam a proteína amiloide beta (AB) em uma forma anormal e insolúvel. Por todo esse tempo, as placas de AB foram consideradas centrais na patogenia da doença de Alzheimer (DA) e as pesquisas investigavam estratégias para impedir ou retardar sua formação.
A novidade é que um estudo de pesquisadores da Universidade de Cincinnati propõe uma abordagem inteiramente diferente, entendendo as placas de AB como uma consequência da doença e não sua causa. A publicação do grupo no Journal of Alzheimer’s Disease lembra que a proteína AB é encontrada naturalmente no cérebro saudável e desempenha uma série de funções importantes. Já as placas passam a se formar quando a forma saudável e solúvel da proteína AB se torna insolúvel.
Sendo assim, os pesquisadores formularam a hipótese de que a doença poderia ter como causa a diminuição da quantidade total disponível de proteína AB solúvel e não sua agregação em placas que promoveriam toxicidade neuronal. Ainda segundo os autores, estresse de origem biológica, metabólica ou infecciosa podem, no curso da vida, promover a alteração estrutural da proteína AB solúvel em placas com a forma insolúvel, não sendo todos os indivíduos com muita deposição de placas AB que desenvolverão o quadro demencial da DA.
Partindo de estudos anteriores sinalizando que pessoas com quantidades de proteína AB normais no cérebro tendiam a não desenvolver demência independentemente da quantidade de placas depositadas, os pesquisadores desenvolveram o estudo atual. Indivíduos com mutações que predispõem a grande formação de placas de proteína AB (App, PSEN1 e PSEN2) tiveram dosados os níveis da proteína AB solúvel.
Com essa estratégia, foi visto que pessoas com altos níveis de AB solúvel tendem a permanecer cognitivamente normais, com o contrário ocorrendo em pessoas com níveis mais baixos. Foi possível até mesmo determinar que níveis de proteína AB solúvel de 270 picogramas por mililitro tendem a preservar a cognição de forma independente das placas.
Segundo os autores, seus dados sugerem a pesquisa de estratégias que resgatem ou preservem valores normais de proteína AB solúvel como potencialmente benéficas.
Quer saber mais?
Fonte: https://content.iospress.com/articles/journal-of-alzheimers-disease/jad220808