Afinal, estamos perto de uma cura para a raiva humana?

Por Docmedia

3 novembro 2023

A raiva humana é uma doença infecciosa viral aguda de muita gravidade que afeta mamíferos. O quadro clínico é uma encefalite aguda progressiva que, depois de instalada, tem quase 100% de letalidade por não haver qualquer tratamento eficaz.

A novidade é que pesquisadores da Uniformed Services University Of The Health Sciences em Bethesda, Maryland, divulgaram o desenvolvimento inédito de uma terapêutica que se mostrou eficaz experimentalmente. A publicação do grupo na EMBO Molecular Medicine lembra que o agente causador da raiva é um vírus do gênero Lyssavirus, da família Rhabdoviridae.

O artigo sobre o estudo atual narra o desenvolvimento de um anticorpo monoclonal desenvolvido a partir de um lissavírus presente em um morcego australiano e que se mostra estruturalmente muito similar ao vírus da raiva. Esse anticorpo monoclonal foi desenvolvido para visar uma proteína que os lissavírus utilizam para se ligarem às células alvo e as infectarem.

Nos experimentos em modelos murinos de desafio de infecção com o vírus da raiva, os pesquisadores constataram que uma dose do anticorpo foi suficiente para proteger os animais contra a infecção com uma dose letal do vírus. Ainda mais curioso que isso, foi a observação de que, mesmo quando o anticorpo foi injetado posteriormente à infecção já estabelecida no sistema nervoso central, ainda assim houve reversão dos sintomas e a morte foi evitada. Essa última observação foi inesperada, porque uma das dificuldades previstas é que o grande tamanho do anticorpo monoclonal impede sua passagem através da barreira hematoencefálica.

Segundo os autores, seus dados de pesquisa indicam que o anticorpo conseguiu produzir uma ação periférica no sistema imune capaz de modular uma resposta imune eficiente. Algo como induzir a formação periférica de células imunes capazes de penetrar a barreira hematoencefálica e, uma vez no cérebro, combaterem eficazmente a infecção viral.

Por mais que a descoberta seja animadora e promissora, os estudos iniciais em modelo experimental precisam passar a uma fase de muito mais difícil execução que é sua ratificação por ensaios clínicos em humanos. Além do desenvolvimento de uma versão do anticorpo monoclonal adequada para uso humano, muito dinheiro precisa ser investido para ensaios suficientemente grandes em locais endêmicos para casos de raiva humana, como é o caso da Índia.

Com todas essas etapas superadas com sucesso será possível afirmar estarmos mais perto de uma cura para a raiva humana grave? Doença que causa cerca de 60.000 novas mortes todos os anos.

Quer saber mais?

Fonte: https://www.embopress.org/doi/full/10.15252/emmm.202216394

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