A bactéria da boca que é uma má notícia para os portadores de câncer colorretal

Por Docmedia

28 março 2024

O surgimento e a progressão do câncer envolvem um complexo processo de interações entre fatores genéticos e ambientais. O câncer colorretal é o terceiro tipo mais comum de câncer na espécie humana, correspondendo a cerca de 10% de todos os casos de câncer. A novidade é um estudo de pesquisadores do Fred Hutchinson Cancer Center que descobriu uma bactéria originária da cavidade oral que pode colonizar esses tumores colorretais e promover sua progressão, piorando o prognóstico dos pacientes.

A publicação do grupo na revista Nature conta que a descoberta veio a partir do exame de 200 amostras de câncer colorretal retirados de pacientes. O foco inicial da pesquisa foi medir nas amostras os níveis de uma bactéria oral chamada Fusobacterium nucleatum, também conhecida por colonizar os tumores colorretais. 

Em cerca de metade das amostras, foi descoberto que apenas um subtipo específico da bactéria estava elevado no tecido tumoral em comparação com o tecido saudável. A F. nucleatum também estava em quantidades significativamente maiores nas fezes dos portadores de câncer colorretal em comparação às fezes de indivíduos sem a doença.

Os autores chamam a atenção sobre o fato de que pacientes portadores de câncer colorretal colonizado por F. nucleatum costumam mostrar menor sobrevida e pior prognóstico que pacientes com o mesmo tipo de tumor, mas não colonizados pela bactéria. Outro foco da equipe foi investigar como ocorre a migração do Fusobacterium nucleatum de sua localização habitual na boca para os tumores na porção distal do intestino.

Avaliando a genética dessas bactérias, os pesquisadores descobriram que o grupo predominante de F. nucleatum em tumores de câncer colorretal, considerado uma única subespécie, é na verdade composto por duas linhagens distintas conhecidas como clados. A equipe conseguiu isolar 195 diferenças genéticas entre os dois clados.

O diferenciando do clado encontrado na cavidade oral, o clado Fna C2, que se infiltra no tumor, adquiriu características genéticas distintas, sugerindo que poderia viajar da boca através do estômago, resistir ao ácido estomacal e depois crescer no trato gastrointestinal inferior.

Em pacientes com câncer colorretal, os pesquisadores descobriram que apenas o subtipo Fna C2 é significativamente enriquecido em tecido tumoral colorrectal e lá promove a progressão da doença. Na coorte estudada, cerca de 50% dos pacientes tinham Fna C2 enriquecida nos tumores.

Segundo os autores, as descobertas do estudo são importantes por abrirem oportunidade para diversas estratégias terapêuticas baseadas em versões modificadas de estirpes bacterianas relacionadas à doença e também para a melhor estratificação dos pacientes portadores de câncer colorretal.

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Fonte: https://www.nature.com/articles/s41586-024-07182-w

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