Após as lesões do sistema nervoso central, o sangramento fora de controle é a principal causa de morte por lesões traumáticas em todo o mundo. Além disso, a hemorragia é responsável por 40% das mortes em ambientes civis e até 90% dos óbitos ocorridos em ambiente militar.
O tratamento imediato dessas lesões é crucial para limitar os danos e, atualmente, é feito por meio da compressão mecânica com gazes ou compressas, o uso temporário de torniquetes ou a utilização de agentes hemostáticos. Estes últimos mostram atuação não específica, e por isso limitada, como selantes teciduais (Tisseel, Evicel, VistaSeal, Celox gaze e WoundStat) ou estimuladores da cascata de coagulação, como o Quikclot Combat Gauze. Mais que isso, a ação desses agentes tende a fracassar quando o sistema de coagulação for exaurido.
A novidade é que um estudo de pesquisadores da Universidade de Queensland desenvolveu um novo agente para o controle de hemorragia que funciona com base na ação de proteínas do veneno de cobra. O artigo do grupo na Advanced Health Care Materials conta que o novo composto incorpora ecarin e textilinina. Enquanto a primeira é uma protease procoagulante ao contornar a ativação de uma série de fatores de coagulação através de uma via de coagulação intrínseca e extrínseca, ativando diretamente protrombina para trombina e produzindo assim um coágulo sanguíneo de fibrina, a segunda possui ação antifibrinolítica, ligando-se à plasmina com alta especificidade e inibindo a ação da plasmina, o que resulta na estabilização do coágulo sanguíneo.
No trabalho, as duas proteínas foram incorporadas em um andaime de hidrogel termossensível sintético. Ou seja, em temperatura ambiente a substância permanece no estado líquido e se solidifica na temperatura corporal em contato com o tecido. In vitro, foi demonstrada a formação do coágulo em apenas 60 segundos com o hidrogel e sua manutenção após a ação da textilinina.
Os testes também mostraram imunocompatibilidade e eficácia no controle do sangramento provocado por warfarina reduzindo o sangramento em 75%. Atualmente, o hidrogel passa por mais testes pré-clínicos visando seu dimensionamento para aplicação comercial.
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Fonte: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/adhm.202200574
