Muito se comemora os avanços conseguidos nos últimos 30 anos em termos terapêuticos da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Se o diagnóstico se equiparava à uma sentença de morte na década de 1980 e início da seguinte, o desenvolvimento de novos medicamentos antirretrovirais transformou a infecção em uma doença crônica e gerenciável. Exatamente por isso, agora começam a ser compreendidos seus efeitos no longo prazo.
Sobre o tema, pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles afirmam ter descoberto que o HIV acelera significativamente processos relacionados ao envelhecimento e que isso pode reduzir a expectativa de vida em quase 5 anos em comparação à uma situação de não infecção. A publicação na iScience conta que o estudo foi possível devido ao acesso da equipe a um conjunto especialíssimo de amostras.
O objetivo do estudo foi investigar indícios de trabalhos anteriores associando a infecção pelo HIV e a própria terapia antirretroviral ao início precoce de condições relacionadas à idade associadas ao envelhecimento, como doenças cardíacas e renais, fragilidade e dificuldades cognitivas. Isso foi feito estudando um conjunto de amostras de sangue do Multicenter AIDS Cohort Study, um estudo nacional ocorrido entre 1984 e 2019. O acervo inclui amostras de sangue de 100 homens coletadas 6 meses ou menos antes da infecção pelo HIV e novamente 2 ou 3 anos. Essas amostras foram comparadas com um grupo similar, porém de indivíduos não infectados.
O esforço se concentrou em alterações na metilação do DNA epigenético, um mecanismo que influencia a expressão gênica sem alterar a carga de DNA. A equipe examinou 5 medidas epigenéticas de envelhecimento, sendo 4 delas conhecidas como “relógios” epigenéticos, o que, em resumo, estima a idade biológica em comparação à cronológica. A quinta medida avaliou o comprimento dos telômeros, cujo encurtamento até que a divisão celular seja inviabilizada, também se relaciona ao envelhecimento.
Curiosamente, os infectados pelo HIV mostraram aceleração significativa em cada uma das 4 medições do relógio epigenético (de 1,9 a 4,8 anos) bem como encurtamento dos telômeros no período compreendido entre a infecção e 2 a 3 anos após.
Segundo os autores suas descobertas podem vir a ajudar na previsão da evolução desses pacientes, mas servem mesmo para alertar sobre a importância de prevenir a infecção pelo HIV.
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