Preocupação com aumento da prevalência de malária resistente ao tratamento na África

Por Docmedia

25 outubro 2023

A malária é uma das doenças infecciosas mais prevalentes no mundo e um enorme fardo principalmente em países africanos. Com quase 250 milhões de casos anuais, a doença concentra a maior parte das mortes justamente no continente africano.

Um grande progresso foi feito na última década com o tratamento baseado em artemísia e um antimalárico parceiro, resultando em redução significativa no número de mortes. Ocorre que pesquisadores de instituições como a Universidade de Estrasburgo, do Instituto Pasteur e da Universidade de Columbia trouxeram uma preocupação relevante com a emergência de cepas do parasita resistente ao tratamento atual.

A publicação no New England Journal of Medicine conta que a primeira vez em que esse tipo de resistência do Plasmodium falciparum foi detectada foi em pacientes asiáticos a partir de 2009. Inicialmente, a resistência foi às artemísias, posteriormente se estendendo para os antimaláricos parceiros.

Segundo os autores, no caso da malária resistente aos medicamentos, o que acontece no Sudeste Asiático ocorre frequentemente na África com um atraso de uma década, ou porque os parasitas resistentes atravessam para África ou porque o mesmo mecanismo de resistência demora mais tempo a emergir e a estabelecer-se em ambientes africanos de elevada transmissão. Sendo assim, esse tipo de detecção passa a ser um risco relevante para o progresso que foi alcançado recentemente com os atuais regimes de tratamento.

No novo estudo, os pesquisadores avaliaram a eficácia das terapias combinadas à base de artemisinina em quase 1.000 pacientes na Eritreia entre 2016 e 2019. Foi descoberto que a eficácia da terapia medicamentosa diminuiu durante esse período, com os medicamentos não conseguindo eliminar os parasitas em 0,4% dos pacientes em 2016, aumentando para 4,2% em 2019 e ultrapassando o limiar da OMS para declarar resistência.

Geneticamente, esse tipo de resistência medicamentosa já havia sido demonstrado como resultante de mutação no gene do parasita chamado Pfkelch13, determinando resistência às artemísias. Na coorte examinada na Eritreia, novamente a mutação Pfkelch13 foi encontrada como a mais comum, tornando questão relevante saber a extensão da disseminação desses parasitas resistentes no continente africano.

Os autores também alertam que a situação na Eritreia é ainda mais alarmante, porque muitos dos parasitas albergam deleções genéticas que tornam o parasita indetectável com o teste de diagnóstico rápido mais comum para a malária. Nesse contexto, até 17% dos doentes infectados por P. falciparum teriam testes negativos, podendo levar à ausência/inadequação do tratamento, com consequente aumento da morbimortalidade.

Por fim, é pontuado que um potencial fator de complicação é que a resistência aos medicamentos parceiros das artemísias costuma vir na sequência desta última. Isto ainda não aconteceu, mas a situação pode piorar rapidamente.

Quer saber mais?

Fonte: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2210956

Total
0
Shares

Deixe uma resposta

Postagens relacionadas
%d blogueiros gostam disto: