A doença de Alzheimer (DA) é a principal causa de demência no mundo. Infelizmente, todo o dinheiro empregado em pesquisas visando entender sua patogenia e formas eficazes de tratá-la não alcançou nenhum dos objetivos. Mesmo sua patogênese permanece permeada de mistério, exceto pelo conhecimento de que a deposição crônica de proteína beta-amiloide estruturalmente anormal é parte crítica do processo.
A novidade é que pesquisadores da Universidade de Washington, em St. Louis, anunciaram uma descoberta que pode originar abordagens terapêuticas visando esse ponto do processo. A publicação do grupo na revista Brain conta que o trabalho partiu de um estudo básico sobre síntese proteica.
Durante esse estudo, a equipe descobriu que o maquinário celular de síntese proteica eventualmente falhava e produzia uma versão estruturalmente anormal da proteína aquaporina 4 (AP4). Inicialmente, se pensou que a AP4 sintetizada com uma cauda extra nada mais fosse que uma falha eventual no processo de síntese em interromper a fabricação no momento devido (readthrough).
Posteriormente, analisando a sequência genética da cauda da AP4 anormal, foi descoberto que o mesmo tipo de alteração era uma constante preservada entre diferentes espécies, contrapondo a ideia falha eventual do aparato celular de síntese proteica. Além disso, também foi descoberto que a AP4 com cauda estava presente no cérebro apenas em estruturas relacionadas ao processo de depuração de resíduos tóxicos.
Com esses dados, os pesquisadores decidiram investigar se a AP4 com cauda funcionava diferente da AP4 normal nas estruturas cerebrais de depuração, mais especificamente as projeções dos astrócitos. Além disso, o grupo pesquisou compostos capazes de aumentar a expressão de AP4, investigação que encontrou a apigenina, uma flavona dietética encontrada na camomila, salsa, cebola e outros vegetais; e sulfaquinoxalina, um antibiótico veterinário.
Finalmente, ao tratarem modelos murinos de DA com esses compostos, foi conseguido um aumento na depuração de proteína beta-amiloide da ordem de 20-25%, os estudos sugerem ser suficiente para interromper o acúmulo da proteína anormal.
No momento, os autores trabalham para aprimorar esses compostos para uso clínico, apostando em uma nova abordagem para DA e talvez para outros distúrbios neurodegenerativos com deposição anormal de resíduos, como a doença de Parkinson.
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