As placas de ateroma são as principais manifestações da aterosclerose, um distúrbio inflamatório crônico que afeta a parede vascular. Essas placas podem sofrer de instabilidade até o ponto de promover a formação de coágulos com obstrução do fluxo sanguíneo e eventos cardiovasculares maiores como infarto agudo do miocárdio (IAM) e acidente vascular cerebral (AVC). O principal fator de risco para a formação de placas está no aumento dos níveis de colesterol circulante e isso é combatido com medicamentos como as estatinas, destinados a reduzir esses níveis.
A novidade é que pesquisadores da Universidade de Nebraska anunciaram a descoberta de um outro fator com grande influência sobre a fisiologia da placa de ateroma. A publicação do grupo na revista iScience lembra que, embora o colesterol alto afete todas as artérias da mesma forma, as placas ateromatosas geralmente se formam em torno de curvaturas e bifurcações vasculares que tendem a perturbar o fluxo sanguíneo.
As vias arteriais, por outro lado, desfrutam de um fluxo sanguíneo normal que ajuda a proteger contra a formação de placas. Deste modo, os pesquisadores se questionaram se o sangue fluindo na velocidade típica estabilizaria a placa de ateroma existente, diminuindo as chances de ela se tornar instável e desencadear um evento tromboembólico agudo.
Para testar essa hipótese, os pesquisadores se utilizaram de um modelo murino em que o garroteamento das artérias carótidas de camundongos por algumas semanas causou uma perturbação de fluxo e o acúmulo moderado de placas de ateroma nos animais. A partir daí, os animais foram divididos em grupos para receberem diferentes intervenções.
O primeiro grupo permaneceu com o garroteamento arterial, mas passou a receber uma dose diária de estatinas. O segundo grupo não recebeu medicamentos, mas teve retirado o garroteamento das carótidas, restabelecendo o fluxo sanguíneo normal. O terceiro grupo tanto teve as artérias desgarroteadas como passou a receber estatinas. Por fim, alguns animais permaneceram garroteados e sem tratamento, servindo como controles.
Como esperado, a atorvastatina por si só mostrou sinais de estabilização de placas quando comparada com os controles. Mas os ratos que apenas haviam retirado o garroteamento sem receber estatinas apresentaram melhora semelhante.
Em comparação com os seus homólogos que permaneceram garroteados, os ratos observaram uma queda de 72% nos lipídios e macrófagos, ambos marcadores de instabilidade e progressão da placa, além de um salto de 89% no colágeno, um marcador de estabilidade em placas que de outra forma seriam propensas à desestabilização.
Segundo os autores, o fato de a restauração do fluxo promover efeito similar ao da estatina é notável já que o medicamento pode reduzir a incidência de IAM em 10 anos em até 23%. No estudo, a combinação de normalização do fluxo e estatinas não apenas estabilizou as placas, mas também reduziu notavelmente o seu tamanho e por isso é um mecanismo importante a ser estudado.
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