Estudo no caminho de explicar maior incidência de Alzheimer em mulheres

Por Docmedia

15 março 2023

A doença de Alzheimer (DA) é a principal causa de demência em seres humanos, acometendo dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo. A doença geralmente é progressiva e costuma levar os portadores ao óbito cerca de 10 anos após o diagnóstico em função da inexistência de abordagens modificadoras da doença. E a falta desses medicamentos é creditada a uma incompleta compreensão sobre os mecanismos moleculares envolvidos na doença, o que inclui os motivos para um flagrante predomínio do diagnóstico de DA em mulheres.

A novidade é que pesquisadores do Instituto Scripps e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) anunciaram terem desvendado ao menos parte dos processos moleculares envolvidos na DA. A publicação na revista Science Advances conta que o trabalho da equipe foi focado na proteína imune inflamatória Complemento C3.

Trabalhos anteriores relacionaram doenças neurodegenerativas (inclusive DA) com a ação de proteínas modificadas por um processo químico chamado proteína S-nitrosilação (SNO). Basicamente, essa reação química ocorre quando uma molécula relacionada ao óxido nítrico (NO) se liga fortemente a um átomo de enxofre (S) em um bloco de construção específico de aminoácidos de proteínas para formar uma proteína SNO modificada que pode ter função diferente do habitual.

Para o estudo recente, os pesquisadores utilizaram amostras de 40 cérebros post mortem, sendo que metade dos doadores havia falecido por DA e a outra metade por causas diversas. Além disso, cada grupo continha número igual de cérebros masculinos e femininos. Esse acervo de amostras cerebrais foi investigado em busca de proteínas SNO, o que resultou em 1.449 achados.

Curiosamente, entre as proteínas mais frequentemente encontradas após a S-nitrosilação nos cérebros com Alzheimer havia várias já relacionadas à DA, inclusive Complemento C3 nitrosilado (C3-SNO). E ainda mais notável, os níveis de C3-SNO encontrados nos cérebros femininos com DA foram cerca de seis vezes maiores que nos cérebros masculinos com a doença.

Segundo os autores, estudos recentes mostram que o Complemento C3 possui ação inflamatória que resulta em destruição de sinapses, o que sugere a participação do C3-SNO na patogênese da DA. Por fim, experimentos com células cultivadas mostraram que C3-SNO aumenta à medida que declina a produção de beta-estradiol, sugerindo que a menopausa atua como um processo de perda de proteção que pode explicar parte da predominância feminina na doença.

Esses resultados abrem espaço para tentativas com estratégias terapêuticas usando agentes desnitrosilantes visando reduzir o SNO.

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Fonte: https://www.science.org/doi/10.1126/sciadv.ade0764

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