Novas moléculas não opioides prometem eliminar a dor sem sedação e sem provocar vício

Por Docmedia

9 novembro 2022

A disponibilidade de novos analgésicos que controlem eficazmente diferentes quadros de dor e evitem os efeitos sedativos e viciantes dos opioides é uma necessidade urgente e não atendida na área de saúde. Ainda que não alcançassem uma analgesia tão eficiente como a dos opioides, fármacos com essas características certamente poderiam ser utilizados para reduzir a dose necessária da medicação viciante e reduzirem a crise sanitária hoje vigente.

A novidade é que pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Francisco afirmam terem identificado novas moléculas que prometem cumprir esse papel. O artigo do grupo na revista Science conta que as novas moléculas se ligam fortemente ao mesmo receptor utilizado pela clonidina e pela dexmedetomidina.

Ambas são analgésicos eficazes, mas possuem efeitos sedativos tão potentes que sua utilização como analgésicos fica na prática restrita a poucas indicações e dentro do ambiente hospitalar. No estudo, o primeiro foco foi encontrar moléculas que ativassem o receptor adrenérgico alfa2a, que dados anteriores já haviam relacionado ao controle da dor. Para esse trabalho, foi vasculhada uma biblioteca virtual contendo mais de 300 milhões de moléculas candidatas.

O primeiro filtro foi a exclusão de moléculas com grande peso molecular, muito volumosas para o alfa2a. As moléculas restantes foram virtualmente encaixadas no receptor por meio de um modelo computacional. A última série de testes com 48 moléculas resultou na seleção de seis candidatas de diferentes classes químicas após acoplamento no receptor alfa2a de células humanas e de camundongos cultivadas.

Por fim, as seis moléculas foram testadas como analgésicos em três diferentes modelos murinos de dor aguda e crônica. Nesta etapa, todas as seis moléculas foram eficazes em aliviar com sucesso a dor, mas evitando os efeitos sedativos e viciantes. Outros experimentos mostraram que as moléculas candidatas ativam apenas algumas vias neuronais seletivas predominantemente no cérebro, enquanto a clonidina e a dexmedetomidina promovem ativação de amplo espectro em vias neuronais.

Ressaltando que o uso clínico de alguma dessas moléculas ainda requer anos de pesquisa para avaliar os efeitos de longo prazo, os autores afirmam que seus dados as sugerem como bons candidatos ao desenvolvimento, uma vez que nenhuma evidência de ativação do sistema de recompensa (vício) foi encontrada. 

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Fonte: https://www.science.org/doi/10.1126/science.abn7065

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