Medicamento para fibrose cística pode ajudar a tratar a pneumonia grave

Por Docmedia

24 março 2023

Seja de origem viral ou bacteriana, a pneumonia tem seu tratamento concentrado em combater o agente causador. O problema é que os antibióticos, antivirais ou imunomoduladores podem não funcionar bem o suficiente e a infecção se tornar grave. Nesses casos, a permeabilidade vascular no pulmão aumenta e promove dificuldade na troca gasosa de difícil abordagem, a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA).

A novidade é que pesquisadores da Charité–Universitätsmedizin Berlin, na Alemanha, anunciaram o desenvolvimento de uma estratégia para abordagem desses quadros graves independentemente da causa. A publicação na revista Science Translational Medicine conta que o primeiro passo foi a utilização de camundongos para desafios de infecção respiratória pelo Streptococcus pneumoniae.

Deste modo, foi visto que a SDRA a partir da regulação negativa no endotélio vascular pulmonar do regulador de condutância transmembrana da fibrose cística (CFTR). Basicamente, trata-se de uma proteína da membrana celular presente no epitélio mucoso da árvore respiratória e cuja função é a de um canal iônico de cloreto regulando a passagem de líquido para manter o muco respiratório fluido. Ocorre que CFTR também foi agora identificado nos vasos pulmonares e sendo drasticamente reduzido na pneumonia grave.

O achado em camundongos foi confirmado em amostras de tecido humano na vigência de infecção grave. Experimentos de bloqueio genético do CFTR e acompanhamento por imunofluorescência mostraram que a perda dessa proteína elevou as concentrações de cloreto e cálcio nas células, resultando em redução de seu volume e um efeito de quebra sobre a função de barreira do endotélio vascular que resultou em extravasamento e SDRA.

Para tentar reverter isso, a equipe utilizou o medicamento ivacaftor, um modulador de CFTR na mucosa respiratória utilizado no tratamento da fibrose cística para amenizar a hiperviscosidade.

Segundo os autores, nos modelos murinos de infecção respiratória a medicação funcionou melhor que o esperado, preservando o CFTR endotelial e a função de barreira dessas células. Com isso, os animais tiveram maior índice de sobrevivência à pneumonia grave, menos lesão pulmonar e quadros clínicos mais brandos que sem o ivacaftor.

Com tais resultados, além de um medicamento já aprovado para uso humano, os autores acreditam ter aberto caminho para a avaliação da eficácia dos moduladores CFTR em pacientes com pneumonia, o que pode beneficiar muita gente, ainda que o agente etiológico não seja determinado.

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Fonte: https://www.science.org/doi/10.1126/scitranslmed.abg8577?cookieSet=1

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