Quadros de dor crônica de origem visceral como os vistos em doenças como a endometriose e a síndrome do intestino irritável são notoriamente difíceis de tratar e podem comprometer significativamente a qualidade de vida dos portadores. Parte importante dessa dificuldade em tratar a dor visceral crônica se deve à uma compreensão incompleta de como se processa a mecanossensibilidade visceral nos nervos aferentes que inervam áreas como o cólon.
E esse panorama resulta em frequentemente se recorrer a fármacos como os analgésicos opioides com seus conhecidos efeitos colaterais e risco de dependência. Agora, pesquisadores da Universidade de Washington e da Universidade de Flinders anunciaram a identificação de um receptor específico como principal elo da transmissão dos estímulos de dor visceral ao cérebro.
A publicação no periódico Neuron conta que a equipe estava trabalhando com camundongos quando tiveram a atenção chamada para os neurônios aferentes viscerais que expressam o gene TRPV-1. O TRPV-1 é uma subfamília do canal catiônico de potencial receptor transiente 1. O TRPV-1, também conhecido como receptor de capsaicina, modula a liberação de citocinas pró-inflamatórias.
No estudo, os pesquisadores identificaram nesses neurônios que expressam TRPV-1 a presença de canais iônicos Piezo2 como importantes condutores da dor de origem visceral induzida mecanicamente. Esses canais foram descobertos mais recentemente e originalmente na pele, sendo responsáveis pela detecção do toque.
A presença de Piezo2 também no intestino fez seguir a experimentação em camundongos, com os pesquisadores promovendo a ablação ou inibição da função desses canais Piezo2 e descobrindo que isso foi suficiente para reduzir a hipersensibilidade visceral nos animais. Outro ponto de importância é a presença dos receptores Piezo2 também no tubo digestivo dos seres humanos.
Segundo os autores, o conjunto desse conhecimento significa que o desenvolvimento de estratégias que permitam inibir seletivamente a função dos canais Piezo2 em órgãos como o cólon podem significar uma promissora oportunidade para tratamento da dor crônica de origem visceral sem a necessidade de recorrer aos analgésicos opioides.
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