Terapias celulares como a imunoterapia do câncer com células do receptor de antígeno quimérico (CAR-T) já mostraram serem extremamente eficazes contra neoplasias hematológicas, em muitos casos revolucionando o prognóstico e até curando. Infelizmente, o mesmo sucesso não tem sido alcançado com os tumores sólidos, pois a doença estabelece uma série de barreiras que levam as células imunes à exaustão.
Desde a década de 1980, sabe-se que a citocina interleucina 2 (IL-2) potencializa as células T para superarem as barreiras dos tumores sólidos, mas a terapia sistêmica com IL-2 é muito tóxica. A novidade é que pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Francisco anunciaram o desenvolvimento de uma nova terapia celular que se mostrou capaz de superar todas essas dificuldades.
A publicação na revista Science conta que o grupo utilizou a engenharia celular como forma de superar a toxicidade da IL-2, que inclui até falência de órgãos, e evitar a exaustão das células T dentro do tumor, potencializando sua ação. Esse feito foi conseguido com a incorporação nas células T do receptor sintético Notch (synNotch).
O synNotch é um sensor molecular com projeções para dentro e fora da célula T. A ideia dos pesquisadores era de que, uma vez que a porção externa de synNotch reconhecesse e se ligasse às células tumorais, a porção interna do sensor ativaria a produção de IL-2 dentro da célula T no ambiente tumoral, o que isolaria o resto do organismo do processo.
Uma vez que a equipe finalizou a construção das células T com synNotch, a opção foi por testá-las em modelos de tumores sólidos notoriamente de difícil tratamento, como o melanoma e o câncer de pâncreas. Felizmente, as células CAR-T com synNotch funcionaram exatamente como previsto pela equipe, reconheceram os tumores corretamente para, só então, iniciarem um pool de produção de IL-2 que, por sua vez, induz replicação clonal das células CAR-T e mais produção de IL-2 em um ciclo com poderosa ação antitumoral.
Felizmente a ideia de acionar a produção de IL-2 de forma direcionada dentro do tumor também evitou o surgimento dos conhecidos efeitos colaterais da terapia sistêmica com IL-2. Por todos esses bons resultados, os autores já sinalizam a intenção de iniciar ensaios clínicos com pacientes de câncer de pâncreas em 2024.
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