Deficiência de aminoácido mostra papel central na neuropatia diabética

Por Docmedia

10 março 2023

A neuropatia periférica é uma complicação do diabetes em que os altos níveis circulantes de açúcar terminam por lesionar os nervos periféricos provocando o surgimento de sintomas como dor, fraqueza e parestesias principalmente em mão e pés. A condição é progressivamente debilitante, mas sua abordagem hoje é restrita a medidas para controle glicêmico, analgesia, fisioterapia e suporte com uso de bengalas e muletas.

A novidade é que pesquisadores do Instituto Salk afirmam terem descoberto um novo fator relacionado ao metabolismo de aminoácidos que desempenha papel importante na patogênese da neuropatia periférica. Artigo do grupo publicado na revista Nature conta que tais descobertas são resultado de experimentos realizados com camundongos com e sem diabetes. O artigo também ressalta que aminoácidos são os blocos de construção que compõem as proteínas e moléculas de gordura especializadas chamadas esfingolipídios, que são abundantes no sistema nervoso.

Baixos níveis do aminoácido serina forçam o organismo a incorporar um aminoácido diferente nos esfingolipídios, o que altera sua estrutura. Uma hipótese é que o acúmulo de esfingolipídios alterados (sem serina) tenham papel na lesão do nervo periférico. Para testar a hipótese, os pesquisadores alimentaram um grupo de animais com dietas padrão contendo ou não o aminoácido não essencial serina em associação com dietas com alto ou baixo teor de gorduras.

Curiosamente, foi descoberto que a dieta hipercalórica associada àquela deficiente em serina resultou em aparecimento acelerado de neuropatia periférica. Em contraste, em camundongos já diabéticos, a suplementação de serina na alimentação foi suficiente para retardar a progressão da neuropatia periférica nos animais.

Outro experimento feito pelo grupo investigou o composto miriocina, uma molécula capaz de inibir a troca da serina por outros aminoácidos durante o processo de montagem dos esfingolipídios. Como resultado, a terapia com miriocina reduziu os sintomas de neuropatia em camundongos diabéticos alimentados com dieta rica em gordura e isenta de serina.

Segundo os autores, tais achados ressaltam a importância do metabolismo de aminoácidos e da produção de esfingolipídios na manutenção de um sistema nervoso periférico saudável. Também ligam a deficiência sistêmica de serina e a dislipidemia à ocorrência de neuropatia. Entretanto, os autores também prosseguem afirmando ser prematuro poder recomendar a suplementação de serina como tratamento ou prevenção da neuropatia periférica do diabetes.

Essa abordagem precisa ser explorada em termos quantitativos, ou seja, o quanto de suplementação seria necessário para o mesmo efeito em seres humanos, além de verificados eventuais desvantagens da suplementação. Contudo, isso não impede o acesso a alimentos naturalmente ricos em serina como soja, nozes, ovos, grão-de-bico, lentilhas, carne e peixe.

Por fim, está em desenvolvimento pelo grupo um teste de tolerância à serina que, em tese, poderia ser usado para identificar as pessoas em maior risco de neuropatia e os que mais se beneficiariam da suplementação.

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Fonte: https://www.nature.com/articles/s41586-022-05637-6

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